Entrevista sobre brincar

1- Qual a importância das brincadeiras e atividades lúdicas para o desenvolvimento intelectual das crianças?
Do ponto de vista neurológico podemos dizer que a brincadeira torna a criança mais inteligente, pois todo nosso aprendizado é baseado em conhecimentos prévios que já temos, portanto, quanto mais uma criança brinca, mais memórias ela registrou e isso lhe dá mais condições de novos aprendizados, de uma maneira mais consistente, mais rápida e mais prazerosa.
Brincando, a criança desenvolve os sentidos, adquire habilidades para usar as mãos e o corpo, reconhece objetos e suas características, texturas, formas, tamanhos, cores e sons. Além disso entra em contato com o ambiente, relaciona-se com o outro, desenvolve o físico, a mente, a auto-estima, a afetividade, torna-se ativa, curiosa e a cada dia com maiores possibilidades para resolver problemas. A brincadeira permite decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir, experimentar, descobrir, aceitar limites e surpreender-se.
O brincar adequado proporciona mais autonomia e independência para os indivíduos.  As brincadeiras devem incentivar a criança a encarar novos desafios, a se superar e perder medos, entender regras, ter paciência e a perceberem que é prazeroso aprender.

2- De que forma a brincadeira propicia esse desenvolvimento? O que acontece? É através da neuroplasticidade. A neuroplasticidade, sucintamente explicada, é a capacidade do sistema nervoso central (SNC) de aprender a resolver problemas.  Ela está intimamente ligada ao número de estímulos saudáveis a que o SNC é exposto.  Para que efetivamente haja aprendizado, é necessário que ocorram modificações neurais e para tanto é preciso que se oportunizem obstáculos e serem vencidos, e uma das principais maneiras de se conseguir isso é através do brincar.
A brincadeira é um processo de relações entre a criança e o brinquedo e das crianças entre si e com os adultos. O ato de brincar é muito importante para o desenvolvimento integral da criança. As crianças se relacionam de várias formas com significados e valores inscritos nos brinquedos, sendo que um mesmo estímulo pode ter significados diferentes, dependendo do contexto afetivo e social em que está inserido.
As brincadeiras podem acontecer solitariamente; em grupo; entre crianças de idades diferentes; entre crianças da mesma idade, entre adultos e crianças e entre adultos entre si.  Existem diferenças também entre o modo de brincar: brincadeiras organizadas pelas próprias crianças; brincadeiras tradicionais; jogos; atividades lúdicas propostas pelo adulto, com conteúdos específicos a serem atingidos.

3- A partir de que idade a criança deve ser estimulada? Desde o nascimento. Já desde a gestação as crianças fazem parte de um contexto social. É importante que os pais e cuidadores que convivem com elas, se transformem em parceiros de seus jogos e brincadeiras, dando importância a cada gesto, a cada palavra e a cada movimento.
A brincadeira implica em tomar decisões, mesmo que simples, como a risada de um bebê sinalizando sua aprovação em relação à brincadeira da mãe. Decidir brincar é aceitar uma proposta, seja ela vinda de um parceiro, de uma brincadeira ou de um jogo com regras preestabelecidas.

4- Que tipos de brincadeiras os pais/educadores deve fazer com as crianças em cada faixa etária? O senhor poderia classificar em grandes grupos, tipo 0 a 3 meses; 3 a 6 meses; 6 meses a 1 ano… e assim por diante. Mais importante do que saber exatamente que tipo de brincadeira temos de fazer ou de mecanizar esses momentos, é termos a sensibilidade, a intenção e a dedicação necessárias para perceber quando somos convocados a brincar. É possível transformar qualquer atividade em brincadeira e momentos educativos, desde a troca de fraldas, o banho, a troca de roupas e as refeições temos oportunidade de brincar com a criança estimulando seus sentidos e compreensão, e também já impondo limites que se fazem necessários e devem ser praticados durante as brincadeiras.
Podemos dar alguns exemplos de brincadeiras conforme a faixa etária sempre lembrando de proteger contra acidentes e de não oferecer objetos e alimentos pequenos pelo risco de engasgos e aspiração, esconder medicações e produtos tóxicos do alcance das crianças:

0-3 meses: conversar com o bebê, fazer caretas, balançar objetos coloridos dentro do seu campo de visão, cantar, emitir sons diversos para que ele se interesse, oferecer objetos para que ele tente alcança-los, olhar nos seus olhos, admirar seu sorriso…

3-6 meses: deita-lo de barriga para baixo(somente quando acordado), incentiva-lo a começar a rolar, mostrar um brinquedo e em seguida esconde-lo para que o bebê procure, estimular a bater palmas, contar ao bebê o que se está fazendo, brincar na frente do espelho, brincar de “pula-pula” segurando pelas axilas…

6-9 meses: ensinar a bater um brinquedo no outro segurando um em cada mãe, chama-lo pelo nome, encaixar potinhos, sentar o bebê, incentivar que engatinhe, ensina-lo a beijar e a deixar que lhe beijem, faze-lo alcançar um brinquedo e o ofereça a alguém, colocar tampa em potinhos, oferecer objetos de várias texturas para ele conhecer…

9-12 meses: deixa-lo engatinhar e entrar embaixo da mesa para conhecer espaços, ensinar os movimentos “tchau”, “sim”, “não” e “vem”, perguntar “onde está a mamãe”, deixa-lo andar apoiado nos móveis, dar carrinho para empurrar, pedir que ajude a se despir na hora da troca, facilitar o andar segurando pela mão, mostrar figuras para que ele aponte o que é….

12-24 meses: brincar de construir torres, mostrar figuras para que identifique, brincar de cavalinho, estimular a guardar brinquedos, imitar sons de animais, mostrar álbuns de fotos, estimular a chutar bola, brincadeiras com marionetes….

24-60 meses: período caracterizado pelo aprimoramento das habilidades até então adquiridas, em especial a capacidade de comunicação, locomoção (andar e correr com segurança, subir escadas, etc.), manuseio de objetos e jogos simbólicos.

5- Caso os pais/educadores não entendam que “brincar é coisa séria”, que tipo de prejuízos a criança pode ter na infância, ou mesmo na vida adulta? O termo brincar é oriundo do latim vinculum, que quer dizer laço, união. O primeiro impacto da falta do brincar reside na limitação do entrosamento familiar, na privação de afeto e na falta de estimulação adequada para a criança.  As brincadeiras proporcionam momentos de fundamental importância para o conhecimento mútuo entre pais e filhos. O brincar oferece oportunidades de educação comportamental e de conhecimentos gerais que não podem ser desperdiçadas, principalmente nos primeiros anos de vida. Com o passar do tempo as crianças que brincam pouco terão menos possibilidade de relacionar-se com a sociedade em que vivem, menos desenvolvimento cognitivo e, por conseguinte, menos oportunidades de crescimento e amadurecimento. Durante as brincadeiras também podemos detectar atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e a falta desses momentos pode atrasar diagnósticos e intervenções relacionadas a isso.

6- O senhor poderia me indicar alguns sites confiáveis, que abordem esse assunto?
http://www.sbp.com.br/
http://pcdec.sites.uol.com.br/desenvolvimentoeeducacao.htm
http://www.estimulando.com.br/default.htm

Ver mais: