Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Definição

TEA ou Autismo é um distúrbio neurobiológico do desenvolvimento humano que vem sendo estudado pela ciência há décadas, mas sobre o qual ainda permanecem, dentro do próprio âmbito da ciência, divergências e grandes questões por responder.

O espectro autista

Embora o conceito de autismo seja bem mais conhecido ele ainda surpreende pela diversidade de características que pode apresentar e pelo fato de, na maioria das vezes, a criança autista ter uma aparência física totalmente normal. Há uma grande variabilidade de sintomas e quadros clínicos entre pessoas com o mesmo diagnóstico, por isso a denominação de espectro autista, ou até mesmo, de autismos, como já se referem alguns especialistas no tema.

O TEA é um problema definido por alterações no comportamento, na linguagem e na socialização presentes desde idades muito precoces, mas nem sempre tão evidentes. Há falhas no funcionamento normal do cérebro social. Caracterizado por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação que cursam com problemas comportamentais e do desenvolvimento. Em alguns casos ocorrem estereotipias, mas nem sempre.

Estas três importantes áreas afetam a base do desenvolvimento humano e do aprendizado. Pelo menos 30% dos autistas têm deficiência intelectual associada. Mais de 70% dos indivíduos com TEA tem outros diagnósticos associados, as chamadas comorbidades, como por exemplo: deficiência intelectual, TDAH, depressão, ansiedade, epilepsia, problemas alimentares, alterações do sono e outras situações com agravam o quadro.

Devido à infinidade de apresentações clínicas, há quadros muito sutis e outros mais graves, mas é importante que se compreenda que nem todos os sintomas descritos precisam estar presentes para se confirmar o diagnóstico.

Autistas podem reagir de maneira anormal a alguns estímulos e situações usuais, tal como angustiar-se com barulhos altos ou mudanças de rotinas. Podem apegar-se de maneira excessiva a objetos, ou por outro lado, ignorar pessoas ou brinquedos. Não há características físicas marcantes na maioria das pessoas autistas. Porém, por ter suas capacidades comprometidas, a pessoa autista pode ter a expressão vazia de uma pessoa fora da realidade ou indiferente ao mundo que lhe cerca. Muitas vezes são demasiadamente ingênuos ou não tem noção do perigo.

É comum alguns pais relatarem que a criança passou por um período de normalidade anteriormente à manifestação dos sintomas, mas essa regressão sempre ocorre antes dos 3 anos de idade. Há casos em que as crianças chegam a brincar e ter uma comunicação adequada para a idade, mas perdem essas habilidades e o problema fica evidente.

A melhora do quadro e do desenvolvimento das habilidades sociais tende a melhorar com o crescimento, com o amadurecimento cerebral e com as intervenções, mas é muito variável. Alguns permanecem indiferentes, não entendendo muito bem o que se passa na vida social e com baixo nível de comunicação e de interação. Nos casos mais graves se comportam como se as outras pessoas não existissem, olham através de você como se você não estivesse lá e não reagem a alguém que fale com elas ou as chame pelo nome, ou quando o fazem é por muito pouco tempo e sem empatia.

Frequentemente suas faces mostram muito pouco de suas emoções, exceto se estiverem muito bravas ou agitadas. São indiferentes ou têm medo de seus colegas e usam as pessoas como utensílios para obter alguma coisa que queiram. Muitas vezes o simples fato de querer ir ao banheiro e não conseguir comunicar a ninguém pode ocasionar problemas como autoagressão ou agressão aos outros.

No outro extremo do espectro, há casos em que os sintomas são muito sutis, pois os indivíduos falam, brincam e convivem em relativa harmonia, mas podem ter uma ingenuidade acima do normal, dificuldade em flexibilizar rotinas, dificuldade em entender brincadeiras, piadas e o sentido figurado das coisas. Há casos com hiperlexia (habilidade de leitura muito precoce e muitas vezes por conta própria) ou domínio integral sobre alguns assuntos que lhes despertem interesse como astrologia, álgebra, antropologia, paleontologia…

O Autismo não é uma condição de “tudo ou nada”; ao contrário, é visto como um continuum que vai do grau leve ao grave, ou melhor ainda, de um comprometimento leve a um comprometimento grave.
Na maioria dos casos não haverá uma causa bem identificada, já em outros poderá estar associado a algumas doenças de base, tais como: Síndrome de Angelman, Síndrome de Asperger, Síndrome do X Frágil, Síndrome de Prader-Willi, Síndrome de Down, Paralisia Cerebral, Encefalopatias epilépticas….

Incidência

A taxa de incidência vem aumentado muito nos últimos anos, e ainda não se tem uma explicação adequada para isso. Existem estudos que sugerem a incidência de até 1:54 crianças nascidas tenham algum traço do espectro. O autismo incide igualmente em famílias de diferentes raças, credos ou classes sociais. Porém, independentemente de critérios de diagnóstico, atinge principalmente pessoas do sexo masculino, numa proporção de 4 homens autistas para uma mulher com o mesmo diagnóstico.

Diagnóstico

A confirmação do diagnóstico é clínica, ou seja, baseada na observação do indivíduo e nos relatos dos familiares e educadores. Os critérios atuais salientam que alguns dos sintomas podem ser identificados somente no passado e não estarem presentes no momento da consulta. Não é necessário nenhum tipo de exame complementar par definir autismo, mas podem auxiliar para melhor entendimento das causas e das comorbidades, assim como na estimativa de recorrência na família.

ATENÇÃO: As informações a seguir servem apenas como referência. Um diagnóstico exato é o primeiro passo importante em qualquer situação; tal diagnóstico pode ser feito apenas por um profissional qualificado que esteja a par da história completa e da observação presencial do indivíduo.
Abaixo seguem alguns dos principais sintomas a serem observados, mas é importante lembrar que se apresentarão em diferentes proporções e associações dependendo de cada caso. Por isso a nomenclatura atual classifica o quadro como ESPECTRO AUTISTA, devido a infinidade de apresentações clínicas possíveis.
– diminuição no uso de comportamentos não-verbais, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social
– dificuldade em desenvolver relações de companheirismo e amizade apropriadas para o nível de comportamento e idade
– bebês muito calmos que não “incomodam nada”
– pouco contato visual
– sorriso imotivado ou falta de riso em situações a que são convocados
– falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse
– maior interesse por objetos do que pelas pessoas em si
– ausência de reciprocidade social ou emocional (parecem não escutar, demoram para atender ao chamado de alguém)
– atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas
– em indivíduos com fala normal, destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas
– ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriadas para o nível de desenvolvimento
– obsessão por padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco
– fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específicos
– hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos, estereotipias
– obsessão por partes de objetos ou uso inadequado de objetos
– atraso ou funcionamento anormal na interação social, na linguagem usada, na comunicação social, nas ações simbólicas ou imaginárias
– nas casos leves, anteriormente classificados como Asperger, pode haver uma linguagem rebuscada e uma postura aparentemente arrogante em relação ao interlocutor

Tratamento

Nesse momento, infelizmente, ainda não se pode falar em cura para o TEA, mas há como amenizar a situação. O indivíduo autista deve ser tratado como tal o mais breve possível, a fim de desenvolver suas habilidades de comunicação, interação social e aprendizado. A negação do diagnóstico implicará em atraso nos tratamentos e prejudicará o desfecho em longo prazo, pois intervenções precoces, embora não garantam cura, aumentam a chance de melhora.

A possibilidade de o autista desenvolver comunicação verbal, integração social, alfabetização e outras habilidades relacionadas dependerá do grau de comprometimento e da intensidade e adequação dos tratamentos. Mas é intrínseco à sua condição de autista que ele tenha maior dificuldade nestas áreas do que uma pessoa “normal”.

No entanto, superar a barreira que isola o indivíduo autista do “nosso mundo” não é um trabalho impossível. Apesar de manter suas dificuldades, o indivíduo autista, dependendo do grau do comprometimento, pode aprender os padrões “normais” de comportamento, exercitar sua cidadania, adquirir conhecimento e integrar-se de maneira bastante satisfatória à sociedade.

Os principais fatores determinantes de melhora são: uma capacidade cognitiva (inteligência) normal e as intervenções precoces.

Como Agir?

Uma pessoa autista pode ser bem diferente de qualquer outra pessoa que você conheça. E em alguns casos isso pode ser constrangedor pra você. Exatamente por que está lidando com o desconhecido. Quantas pessoas não se constrangem quando encontram um deficiente físico ou mental?
Não há motivo para que você se intimide nem tampouco intimide o indivíduo com problema. Basta conhecer sua realidade e compreender. É salutar que familiares, amigos e educadores estejam a par da situação, esclarecendo suas principais habilidades e também as dificuldades para que se possa melhor auxiliar.
Muitas áreas de atendimento podem ajudar crianças e adultos com autismo, como por exemplo, a fonoaudiologia, a psicologia, a psicopedagogia, a terapia ocupacional, a equoterapia, a fisioterapia, a psiquiatria , a neurologia, enfim , na maioria das vezes, haverá uma abordagem interdisciplinar.

Não há um tratamento medicamentoso específico para o autismo. Quando indicado, sempre deve ser individualizado conforme as queixas e dificuldades de cada paciente, considerando as comorbidades e o objetivo do tratamento proposto, na tentativa de proporcionar um melhor desempenho cognitivo e de relacionamento interpessoal.

Em relação ao tratamento não medicamentoso existem vários métodos preconizados, logo abaixo vou citar os que têm uma sustentação mais evidente na literatura nesse momento. De toda forma é preciso ter ciência de que o terapeuta é mais importante do que o método em si. Além disso, é necessário que os pais e familiares mais próximos também assumam a posição de terapeutas, pois quanto mais cedo e quanto mais intervenções a criança for exposta, maior a chance de melhora.

MÉTODO TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children)

1. Avaliações da criança diferentes situações;
2. Envolvimento dos pais em colaboração com a família;
3. Ensino estruturado;
4. Manejo de comportamento;
5. Desenvolvimento e aquisição de comunicação espontânea;
6. Aquisição de habilidades sociais;
7. Como ensinar capacitando nas áreas de independência e vocacional;
8. O desenvolvimento de habilidades de lazer e recreação.

ABA (ANÁLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO)

O ABA (Applied Behavior Analysis) consiste do estudo científico do comportamento para aumentar, diminuir, criar, eliminar ou melhorar comportamentos. Os princípios fundamentais do ABA são:
1. Criar situações de acerto, isto é, iniciar com tarefas que o aluno consegue realizar, oferecer apoio em caso de dificuldade, para ir avançando e retirando o apoio aos poucos. Sempre garantir a resposta correta.
2. Fornecer instruções claras e concretas, oferecer apoio e material compatível.
3. Sempre reforçar a conduta correta.
4. Ignorar, corrigir ou redirecionar a conduta incorreta.
5. Registrar sempre.

Modelo Denver de Estimulação Precoce (ESDM)

O Denver é uma abordagem de intervenção de desenvolvimento com base no relacionamento, que utiliza técnicas de ensino consistentes com a ABA. Os objetivos dessa intervenção são os de estimular os ganhos sociais – de comunicação, cognitivos e de linguagem – e de reduzir os comportamentos atípicos, associados ao autismo, em crianças com autismo.
Avalia e trabalha as Habilidades Cognitivas, a Linguagem, o Comportamento Social, a Imitação, as Habilidades Motoras Especializadas e Rudimentares, as Habilidades de Autocuidados e o Comportamento Adaptativo.
As sessões estimulam a motivação para a interação social com rotinas divertidas e atividades lúdicas de grupo como meio de tratamento, de desenvolvimento da comunicação verbal e não verbal, da imitação e da atenção do grupo, usando trocas e rodízios como parte das atividades rotineiras do grupo estimular o aprendizado social.

ATENÇÃO!
Mais importante do que ter um método em si, é saber se os terapeutas e a família (que em realidade são os principais terapeutas) sentem-se a vontade com a criança, tem afeto, empatia, paciência, experiência e conhecimento sobre o que estão trabalhando.

É sempre importante lembrar que os autistas necessitam atenção e tratamento transdisciplinar, e que nós devemos COMPREENDER AO INVÉS DE JULGAR as suas atitudes e lhes oferecer todo o nosso carinho e respeito.

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